Pode uma bola terapêutica insuflável, de formato alongado, lembrando um “amendoim”, encurtar o trabalho de parto em quase uma hora e meia e reduzir o número de cesarianas realizadas em vinte por cento?

De acordo com a evidência científica sim, e foram estas as razões que levaram o Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) a ser a primeira instituição do Serviço Nacional de Saúde a disponibilizar este recurso inovador às suas parturientes, para possibilitar uma experiência de um parto mais humanizado. As “Bolas de Nascimento”, como as que encontramos em ginásios, já são muito comuns nas salas de parto – promovem a mobilização da grávida e auxiliam no controlo da dor e na progressão do trabalho de parto. Mas a “Bola Amendoim”, que já é uma presença assídua nos blocos de partos em países como os EUA, e que chega agora a Portugal, introduzida de forma pioneira no HFF, é diferente em quase todos os aspetos. Em primeiro lugar, a sua forma, que não é redonda, mas sim alongada. Depois, não tem um “tamanho universal”: é disponibilizada em quatro dimensões distintas, para uma adaptação à altura da parturiente e à posição que esta irá adotar, consoante os estádios do trabalho de parto
em que se encontre. Finalmente, estas bolas têm também a particularidade de terem sido concebidas para ser utilizadas em mulheres que se encontram deitadas, em repouso na cama, sob efeito de analgesia epidural – e não em mulheres que estão em deambulação pela sala de partos. Pode parecer um equívoco, já que a liberdade de movimentos durante o trabalho de parto é sempre aconselhada e promovida pelos profissionais de saúde. No entanto, determinadas condições maternas, bem como a necessidade de uma monitorização contínua do feto, podem tornar bastante desafiante esta desejável liberdade de movimentos da grávida, levando-a a permanecer deitada, o que dificulta a progressão do trabalho de parto. Nestes contextos, a “Bola Amendoim”, vai poder fazer toda a diferença como uma alternativa à deambulação livre da grávida. Existem seis estudos entre 2015 e 2022 que demonstram evidência científica acerca dos benefícios da utilização desta bola durante o trabalho de parto. A redução da duração do trabalho de parto pode ir até aos 90 minutos e a redução da taxa de cesarianas pode ascender até aos 20%.
São muitas as posições que podem ser realizadas com a “Bola Amendoim” com a grávida deitada, e é essencial o reposicionamento da parturiente a cada 30 minutos, com o apoio do enfermeiro especialista, que necessita de ter formação específica, já que dependendo do nível do canal de parto em que o bebé se encontra, há posições específicas a adotar.

A utilização da “bola amendoim” e das suas múltiplas posições promovem o aumento dos diâmetros da bacia da grávida nas situações que esta se encontra em repouso na cama. A “Bola Amendoim” é um recurso de utilização voluntária que qualquer parturiente assistida no HFF, a pedido, poderá usufruir durante o seu trabalho de parto. Neste momento, todos os Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia (ESMO) do Bloco de Partos do HFF já a possuem, possibilitando uma experiência mais humanizada e positiva de parto.

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