A principal causa de morte a nível mundial são as Doenças cardiocerebrovasculares (DCCV), das quais se destacam o Acidente Vascular
Cerebral (AVC) e o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), que são responsáveis
por aproximadamente cerca de 85% de todas as DCCV. Em Portugal morrem,
anualmente, mais de 32.000 pessoas vítimas de DCCV.
Provavelmente de maior relevância é o facto de as DCCV serem também uma
das principais causas de morte prematura, isto é, aquela a que acontece antes
dos 70 anos (calcula-se que possam reduzir em 12-14 anos a esperança de
vida em Portugal).
Para além desta elevada mortalidade, as DCCV são responsáveis por um
elevado número de internamentos hospitalares (com todas as consequências
pessoais, familiares e também económico-sociais) e são uma das mais
importantes causas de incapacidade, não raramente deixando os doentes com
elevado grau de dependência de outras pessoas para as actividades básicas
do seu dia-a-dia (alimentarem-se, vestirem-se, cuidarem da sua higiene, etc.).
De entre os factores de risco para o aparecimento e progressão das DCCV e
particularmente para o AVC (principal causa de morte em Portugal: cerca de
2/3 de todas as mortes por DCCV) destaca-se a Hipertensão Arterial (HTA)
definida como pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg.
A HTA (presente em mais de 40% de todos os portugueses adultos) foi definida
há mais de 3 décadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
“assassino silencioso” visto que, na grande maioria dos doentes, não provoca
sintomas específicos durante muitos anos, sendo muitas vezes descoberta
apenas quando surgem as dramáticas complicações (AVC, EAM, Insuficiência
Renal grave, etc.).
Mas há boas notícias, visto que hoje está claramente demonstrado que o
diagnóstico precoce e o consequente tratamento correcto e atempado da HTA
são capazes, de forma bem marcada, de reduzir o risco de desenvolver DCCV,
de atrasar o seu eventual aparecimento e diminuir a gravidade das suas
terríveis consequências.
O primeiro passo é, naturalmente fazer o diagnóstico (25% dos portugueses
com HTA desconhecem a sua situação) que é simples e pode ser feito em
múltiplos locais e consiste em medir regularmente a pressão arterial e,
perante valores elevados, procurar o médico assistente para confirmar o
diagnóstico.
O segundo passo (ousaria dizer que deveria ser mesmo o primeiro e que se
aplica a todos!) é adoptar comportamentos saudáveis. Principalmente no nosso
país, devemos pôr a tónica na redução no consumo de sal (ingerimos em
média praticamente o dobro do recomendado pela OMS) mas também do
álcool e das calorias e gorduras saturadas e, em contrapartida, aumentar o
consumo de vegetais e fruta, a prática de exercício físico regular, sem descurar
a correcção de eventual excesso de peso ou obesidade e a cessação total do
tabaco.
Quando estas medidas são insuficientes, poderá ser necessário utilizar
também medicamentos anti-hipertensores. Felizmente, a evolução científica e
tecnológica permitiu desenvolver um conjunto alargado de medicamentos antihipertensores, cada vez mais eficazes, praticamente isentos de efeitos laterais
indesejáveis e amplamente disponíveis.
Nunca é demais recordar que os medicamentos anti-hipertensores (como todos
os outros medicamentos) só são eficazes a controlar a pressão arterial, se
forem tomados correctamente, isto é, seguindo rigorosamente a indicação do
médico.
Esta estratégia 1,2,3 é certamente a chave para o sucesso na redução das
nefastas e dramáticas consequências das DCCV, particularmente do AVC, em
Portugal.

Fotografia:

Dr. Fernando Pinto
Assistente Graduado Sénior de Cardiologia no CHEDV
Membro do Conselho Científico da Sociedade Portuguesa do AVC
Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão

Artigo anteriorOpen Internacional de Taekwondo no Algueirão
Próximo artigo“Dia da Juventude” em Casal de Cambra