Maria Lucy, na Capelinha da Praia das Maçãs | Foto: Jornal Correio de Sintra

Cinco dias de festa em honra de Nossa Senhora da Praia

Maria Luci foi e continuar a ser uma das figuras principais dos Festejos em Honra de Nossa Senhora da Praia, pelo seu envolvimento, empenho e dedicação às festas, que este ano se realizam de 23 a 27 de agosto, na Praia das Maçãs e que tem na procissão o seu momento mais importante.
O cortejo tem início após a Eucaristia realizada no adro da capela de Nossa Senhora da Praia, mandada edificar por Alfredo Keil em 1890/91, uma vez que o templo não tem capacidade para albergar todos aqueles que a ele acorrem por esta altura.

Maria Luci, uma das principais batalhadoras para que o culto deixado por Alfredo Keil se tenha mantido até aos dias de hoje, conta de 91 anos de idade, e cuidou durante mais de 50 anos da Capelinha da Vila Guida, onde diariamente acendia uma vela na lamparina, junto ao altar, por Nossa Senhora da Praia. Rezou pela Santa e por toda a comunidade. “Agora já não posso, porque a saúde já não me permite”.

Maria Luci é uma pessoa simples e de uma excelente memória. É pequena de estatura mas enorme de coração. Não tem nome de rua ou placa de agradecimento ou reconhecimento público pela sua dedicação. Não realizou algum feito histórico ou artístico memorável. Mas dentro da sua simplicidade e sinceridade por vezes comovente, Maria Luci, talvez não saiba, o quanto foi importante a sua existência, no feito extraordinário que é a realização dos Festejos em Honra de Nossa Senhora da Praia.

“A Capelinha estava fechada e um dia falei com os seus donos e até com o padre Manuel Machado para fazermos a nossa festa por Nossa Senhora da Praia. O senhor Prior não me disse nada, mas passado algum tempo, perguntou-me da possibilidade de abrir a Capela. Então, fui falar com o senhor Francisco [dono da Capela] se não e importava de abrir a Capelinha da Vila Guida, para fazermos as festas em Honra de Nossa Senhora da Praia! Ele entregou-me, logo ali a chave da Capela”, conta com emoção Maria Luci, referindo a data de 18 de setembro de um ano que já não se lembra.
Pensativa, “nesse ano houve festa aqui na praia e nunca mais parou”, refere Maria Luci que contou com a ajuda de um grupo de senhoras para organizar o evento. “Todos os anos, pedíamos apoio de porta em porta e foi sempre como muita dificuldade que conseguia-mos fazer a procissão”, recorda.

Apesar da saúde já não lhe permitir dar o melhor de si para organizar as festas “os anos já pesam”, Maria Luci sente-se orgulhosa, “por ainda ter a chave da Capela”. Um voto de confiança e de reconhecimento da comunidade pelo seu trabalho, empenho e seriedade que a emocionam.

Diz que apesar das dificuldades em organizar as festas em Honra de Nossa Senhora da Praia, nunca se sentiu “só, nem desmotivada. Sei o que sofri e o que passei, mas estava sempre feliz por sentir a presença de Nossa Senhora da Praia, que muito nos ajudou”, refere Maria Luci, que se diz uma mulher de fé: “Às vezes sinto-me triste, mas também muito feliz. Vou a baixo, mas depois arrebito”, diz a sorrir.

Ao longo da sua vida, Maria Luci tomou conta de cabras, foi padeira, trabalhou no campo, plantou milho, feijão e batata, apanhou tomate e até transportou molhos de caruma às costas. Mas foi como doméstica, onde conseguiu ganhar a sua reforma.

“Agora já não tenho forças para ajudar e para dar a volta às ruas a acompanhar a procissão”, lamenta. “Se não fossem as dores nas pernas, ainda ia! Custa muito. Mas estou sempre presente” porque as Festas em Honra da Senhora da Praia, “é sempre muito bonita e emocionante”.

Orgulha-se de poder contar ainda hoje com duas mãos cheias de amigos que a respeitam e estimam. “Gostam de mim e eu também gosto de todos e de toda a gente”. Já na despedida, uma última palavra, para que não restem dúvidas: “Não há festa tão bonita como a nossa sobretudo quando a procissão chega ao mar e caem pétalas do céu sobre o andor de Nossa Senhora da Praia”.

Homenagem a Maria Luci

Pedro Filipe, presidente da Junta de Freguesia de Colares, não encontra palavras para manifestar a “admiração, estima e consideração” que a comunidade tem por Maria Luci, uma figura carismática “que durante tantos anos, todos os dias, enquanto a saúde lhe permitiu, acendia na capelinha uma vela a Nossa Senhora da Praia, por toda a comunidade”.

Para lhe prestar a justa homenagem de agradecimento e gratidão, o autarca aguarda por resposta da Câmara de Sintra a uma proposta do seu executivo, para atribuir o nome de Maria Luci a um espaço na Praia das Maçãs. “Ainda não obtivemos resposta e vamos aguardando na expetativa por uma resposta positiva, para avançar-mos com este reconhecimento público a Maria Luci, diz Pedro Filipe, que considera que de preferência, “as homenagens são para ser fazer ainda em vida e gostaríamos de descerrar, ainda nestas festas, uma placa com o nome de Maria Luci, junto à capela. Vamos ver se ainda é possível”.

Programa das Festas

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