Era uma vez, um casal com um filho, que na pandemia Covid-19, desistiu de abrir um espaço de barbearia. Com o país confinado, surgiu então a ideia de oferecer voluntariamente o seu serviço de barbearia a utentes, em condição vulnerável, no concelho de Sintra, alguma comida, bens de higiene e também companhia.
Catarina e Marco, criaram no verão de 2020, o projeto “Barbeiro Solidário Portugal” e desde então, todos os meses procuram melhorar a autoestima dos utentes do CAPSA – Centro de Acolhimento para pessoas em situação de Sem-Abrigo, em Mem Martins e no Apoio ao Idoso, da Santa Casa da Misericórdia de Sintra (SCMS). Atuam de forma autónoma, espontânea e voluntária, sem fins lucrativos, de mãos dadas com muitos amigos e empresas.
Marco é barbeiro de profissão e executa o serviço de barbearia aos utentes masculinos de forma gratuita, nas instituições. Catarina, assegura a parte administrativa do projeto, com os parceiros, instituições, assim como a gestão das redes sociais, do site e a recolha de donativos. O filho Mateus acompanha os pais nas ações, participa na distribuição de bens e faz companhia aos utentes nas visitas, “é a nossa inspiração maior”.
Entre outras instituições, no segundo domingo de cada mês, Marco desloca-se à Santa Casa da Misericórda de Sintra para fazer a barba e cortar cabelo, aos homens que se encontram em situação de sem abrigo.
“Até parece que a alma renasce com um simples corte de cabelo”, refere Joana Lopes, técnica de Serviço Social do CAPSA. “Muitos estão em situação de sem abrigo, porque não têm dinheiro para pagar sequer um quarto. Temos muitas pessoas com pensões de 300 euros”, refere com alguma mágoa, Joana Lopes, acrescentando que “o regresso do Marco à instituição [todos os meses] é sempre uma boa notícia. E, quando se olham ao espelho, parece que ganham uma vida nova. É um rejuvenescer de alma”.
Pararelamente a esta ação, o “Barbeiro Solidário” que recorre sempre à ajuda de amigos e parceiros, contribui ainda com produtos de higiene e outros. Frederico, por exemplo, é pasteleiro de profissão e fornece as doações de pão de bolos e confeitaria.
“São um grupo de pessoas com um coração enorme, que estabelecem relações para a vida com os utentes, com as instituições e com os seus parceiros – que são das mais diversas áreas”, acrescenta com alguma emoção e sentimento de gratidão, Joana Lopes, sublinhando “a enorme mais valia deste gesto solidário”, pelos 32 utentes abrangidos pelo projeto e que são diariamente apoiados pela SMCS.
Os fim de semana para o “barbeiro solidário”, significa sempre mais trabalho, tantas vezes sem descanso, nesta e em outras instituições. “Mas sabe bem ajudar quem precisa, porque nos enche o coração e a alma, porque sentimos que podemos tornar a vida de muitas pessoas, um pouco mais confortável e menos dolorosa”, refere Catarina, mentora do projeto com Marco.
“Às vezes levamos connosco o Mateus [filho] para que possa ver o que é a vida real, saindo um pouco do ecrã da ficção. Sabe, por vezes um simples desenho, pode ajudar a olhar o mundo de outra forma. Tão simples quanto isso!”. Pensativa, “nenhum gesto de amor pelos outros, é pequeno demais.”