Filipe Gouveia Moraes, oftalmologista no Hospital CUF Sintra

A catarata é uma das doenças da visão mais comuns, afetando cerca de 30% a 40% dos portugueses com mais de 65 anos. Em entrevista ao Correio de Sintra, Filipe Gouveia Moraes, oftalmologista no Hospital CUF Sintra, esclareceu as dúvidas mais comuns sobre esta patologia que, se não for diagnosticada e tratada atempadamente, pode mesmo levar à cegueira.

A catarata é uma doença ocular caracterizada pela opacificação do cristalino, a lente natural do olho, que é, normalmente, transparente. Esta perda de transparência dificulta a passagem da luz, levando a uma diminuição progressiva da visão.

A prevalência da catarata aumenta com a idade, sendo muito comum, sobretudo, em pessoas com mais de 75 anos. Em Portugal, é atualmente a principal causa de cirurgia oftalmológica.

Atualmente, o único tratamento eficaz é a cirurgia, sim. É feito através da remoção do cristalino opaco, que é depois substituído por uma lente intraocular artificial. A escolha da lente é discutida na consulta pré-operatória. Hoje em dia, podemos optar por lentes monofocais, que permitem corrigir a visão para longe, ou por lentes multifocais, que também permitem uma boa visão ao perto, reduzindo até a dependência de óculos.

Trata-se de uma cirurgia com uma elevada taxa de sucesso. Na verdade, segundo os dados do mais recente estudo Health Cluster Portugal, mais de 90% dos doentes consideram que a sua qualidade de vida melhorou após a cirurgia, o que espelha bem a importância e eficácia do tratamento. Geralmente, a intervenção é realizada em regime ambulatório, ou seja, o doente não precisa de ficar internado, e a recuperação é rápida.

O principal sintoma de catarata é a visão turva ou desfocada. Outros sinais comuns incluem dificuldade em ver à noite, perceção esbatida ou amarelada das cores e alterações frequentes na graduação dos óculos. Perantes estes sinais, é fundamental procurar ajuda médica, uma vez que a catarata, quando não é devidamente tratada, pode dar origem a complicações graves, nomeadamente, a uma perda significativa da visão e, em casos graves, levar mesmo à cegueira.

Filipe Gouveia Moraes, oftalmologista no Hospital CUF Sintra

O envelhecimento é, sem dúvida, o principal fator de risco. Contudo, há outras causas importantes, como a diabetes, o uso prolongado de corticoides, traumatismos oculares e ter história familiar da doença.

A catarata senil, que está relacionada com o envelhecimento e é a mais comum, não pode ser totalmente prevenida, uma vez que resulta de um processo natural e progressivo. No entanto, alguns hábitos saudáveis podem retardar o seu aparecimento, como o uso de óculos de sol com proteção UV, o controlo da diabetes, no caso dos doentes que sofrem desta patologia, e evitar o consumo de tabaco.

Além de permitir o diagnóstico e tratamento atempado da catarata, as consultas regulares são essenciais para detetar precocemente outras doenças oculares que podem ser silenciosas, como o glaucoma, a degenerescência macular da idade e a retinopatia diabética, no caso dos doentes com diabetes. Tal como a catarata, estas doenças, quando identificadas cedo, têm melhores hipóteses de sucesso no tratamento e de preservação da visão.