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Lesões do ombro: rotura da coifa dos rotadores afeta mais os idosos

Rodolfo Caria Mendes, Ortopedista no Hospital CUF Sintra

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Maria Amélia Catalão e Rodolfo Caria Mendes, Ortopedista no Hospital CUF Sintra

Seja devido a quedas, ao envelhecimento ou mesmo durante a prática desportiva, muitas pessoas sofrem lesões no ombro. Uma das mais comuns é a rotura dos tendões da coifa dos rotadores, que afeta mais de 50% da população acima dos 60 anos de idade. Ao Correio de Sintra, Rodolfo Caria Mendes, ortopedista no Hospital CUF Sintra, esclareceu as principais dúvidas sobre esta lesão e as opções de tratamento disponíveis.

    O ombro é uma articulação que controla o movimento do braço. Uma componente fundamental desta função é a coifa dos rotadores – o conjunto dos 4 tendões do ombro (supra-espinhoso, infra-espinhoso, subescapular e pequeno redondo) que rodeiam a articulação e que trabalham em conjunto, para lhe dar movimento e estabilidade. Uma rotura destes tendões, além de ser dolorosa, pode ser limitante para as atividades mais básicas do dia-a-dia, como pentear o cabelo, levar um copo à boca, cuidar da higiene pessoal ou tentar usar a mão, em qualquer atividade, acima do nível da cabeça.

    Torna-se ainda mais preocupante se tivermos em conta que é uma lesão bastante prevalente: cerca de metade das pessoas com mais de 60 anos têm uma rotura parcial ou completa de, pelo menos, um destes tendões do ombro.

    Um tendão é uma “corda viva” que liga a extremidade de um músculo a um osso. Quando o músculo contrai, o tendão puxa o osso e inicia o movimento da articulação. Portanto, quando o tendão rompe, este movimento deixa de ocorrer – de uma forma simples, é como se rompesse a corda de uma marioneta.

    Estas roturas podem acontecer devido a um evento traumático (como uma queda ou um esforço súbito), mas mais frequentemente são de causa degenerativa, por desgaste do tendão. Este processo pode acontecer devido ao envelhecimento ou a esforços diários persistentes e intensos, que fazem com que o tendão vá descolando lenta e progressivamente do osso, até começar a causar sintomas. Aí, se a rotura não for rapidamente tratada, pode progredir até chegar a um estadio em que já não é reparável.

    “Os sintomas principais [de rotura da coifa dos rotadores] são dor no ombro ou no braço, sobretudo de noite e ao movimentá-lo, e falta de força e mobilidade do ombro”, explica o especialista.

    Sim. A rotura da coifa dos rotadores, habitualmente, causa muita dor e limitação dos movimentos do braço, afetando severamente a qualidade de vida. Como tal, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível. No entanto, antes disso, há que confirmar o diagnóstico. Normalmente, fazemo-lo através do exame objetivo do ombro e de exames complementares, como a ecografia ou a ressonância magnética. Na Consulta do Ombro e Cotovelo do Hospital CUF Sintra, tenho a possibilidade de fazer a ecografia no próprio momento, o que é vantajoso, porque permite que o doente inicie o tratamento imediatamente.

    Além disso, as roturas diagnosticadas tardiamente correm o risco de se tornarem irreparáveis. Nesses casos, o tratamento é muito mais complexo e o resultado, habitualmente, é menos satisfatório.

    Para a maioria dos doentes, o tratamento mais satisfatório é a cirurgia minimamente invasiva, por artroscopia. Com esta técnica, a reparação dos tendões é feita através de pequenos furos na pele. A visualização dos tendões faz-se através de uma câmara de fibra óptica (artroscópio) e todos os instrumentos necessários para os reparar são inseridos por esses pequenos furos.

    Há outros casos, felizmente menos frequentes, em que os tendões já não são reparáveis. Acontece, por exemplo, nalguns doentes acima dos 80 anos ou quando o exame de imagem mostra que o tendão já é fraco demais. Estes doentes podem beneficiar da colocação de uma prótese do ombro, que também fazemos no Hospital CUF Sintra.

    Nos doentes muito idosos cuja queixa principal é a dor, e em casos de contraindicação cirúrgica, as opções para controlar os sintomas passam por fisioterapia e medicação adequada.

    A cirurgia de reparação dos tendões do ombro é um procedimento pouco invasivo para o doente, mas é uma cirurgia tecnicamente complexa.  No Hospital CUF Sintra, temos uma equipa diferenciada em patologia do ombro e cotovelo, que trata exclusivamente os problemas destas articulações. Esta elevada especialização e experiência neste tipo de procedimento assegura que o doente terá resultados melhores, nomeadamente no que respeita à melhoria da dor, da força e da função do ombro.

    A atividade física traz benefícios inegáveis para todos. Mas é preciso ter alguns cuidados, porque a atividade física mais intensa e repetitiva com os braços (sobretudo, com esforços súbitos acima do nível da cabeça) pode causar ou agravar estas roturas. Por outro lado, estas lesões também ocorrem, frequentemente, em pessoas que não praticam exercício. Assim, logo que surjam sintomas como dor ou falta de força no ombro e braço, o mais importante é recorrer ao seu médico, para um diagnóstico o mais precoce possível e para que o tratamento tenha maior probabilidade de sucesso, em termos de qualidade de vida.

    Maria Amélia Catalão e Rodolfo Caria Mendes, Ortopedista no Hospital CUF Sintra

    Maria Amélia Catalão tem 74 anos e mora em Mem Martins. Em 2023, uma queda violenta levou-a a procurar ajuda médica no Atendimento Permanente do Hospital CUF Sintra. “Tinha muitas dores. O meu braço estava inchado, negro e sem força”, conta.

    Após a realização de exames de imagem e encaminhada para a consulta de Ortopedia, o diagnóstico de Maria Amélia tornou-se claro para Rodolfo Caria Mendes. “O médico explicou-me que tinha uma rotura dos tendões do ombro” – especificamente, em três tendões da coifa dos rotadores.

    Quando soube que tinha de ser operada, Maria Amélia não hesitou: “desde a primeira consulta, confiei logo na competência do Dr. Rodolfo! Foi muito disponível e explicou-me tudo muito bem, todos os cuidados que teria de ter, antes e depois da operação. E foi tudo muito rápido”, assegura.

    Três meses após a cirurgia por artroscopia e com a ajuda de algumas sessões de fisioterapia, conseguiu retomar as suas atividades diárias. “Voltei a fazer a minha vida normal. Tenho alguns cuidados, sigo as indicações que o médico me deu. Tento não fazer muitos esforços e evito pegar em pesos, mas faço tudo”, acrescenta Maria Amélia. E não esconde a satisfação: “recuperei muito depressa e muito bem. O tratamento foi formidável!”