O verão pode ser propício ao aparecimento de determinadas reações cutâneas como borbulhas – também conhecidas como pápulas – inchaço e vesículas – as chamadas bolhas -, ou simplesmente vermelhidão e comichão, que muitas vezes causam dúvidas relativamente à sua gravidade e ao tratamento.
Nesta Semana Mundial da Alergia, há que distinguir algumas das causas mais frequentes para este tipo de manifestação cutânea: a picada de inseto, a picada de abelha ou vespa, a urticária solar e a miliária cristalina, também conhecida como sudamina.
Picadas de inseto
As picadas de inseto, quer sejam voadores, como as melgas, ou pequenos rastejantes, como aranhas, caracterizam-se pelo aparecimento de pápulas avermelhadas e prurido – a comichão -, que podem cingir-se ao local da picada ou estender-se por toda a área corporal, havendo reativação de pápulas anteriores, mesmo em locais onde o inseto não picou.
O quadro clínico evolui habitualmente sem complicações, sendo o tratamento feito com recurso a anti-histamínicos e à aplicação de pomadas com corticoides no local da picada, durante cerca de uma semana. Quando surgem outros sinais inflamatórios, como dor ou inchaço no local da picada ou atingimento da face, com várias vesículas dispersas pelo corpo, podemos estar perante uma infeção cutânea mais generalizada, que pode requerer antibióticos. Nestes casos, é fundamental consultar o Imunoalergologista ou, se o quadro clínico tiver uma evolução rápida e atingir uma grande área corporal, procurar ajuda médica urgente.
Para evitar as picadas de insetos, é fundamental aplicar repelente ou utilizar os dispositivos elétricos de repelente, que preparam o ambiente interior,usar roupa clara nas atividades ao ar livre, não aplicar produtos com perfume na pele e evitar passeios ao entardecer.
Picada de abelha e vespa
No que diz respeito à picada de abelha ou de vespa, em específico, o espectro de reação pode ir desde uma inflamação local, semelhante à de uma picada de inseto a uma reação anafilática grave, potencialmente fatal – nestes casos, além de afetar a pele, podem surgir sintomas gastrointestinais, respiratórios e/ou cardiovasculares.
O tratamento depende da gravidade da reação, sendo que, no caso de uma anafilaxia, receber apoio médico urgente é fundamental.
Esta situação deve ser sempre avaliada por um Imunoalergologista, com o objetivo de identificar o tipo de inseto em causa, através de testes cutâneos e análises. Nas reações mais graves, pode haver a indicação preventiva para ser portador de uma caneta de adrenalina e, ainda, a possibilidade de dessensibilização ao animal em causa.
As dicas úteis para evitar a picada de inseto também se aplicam a este tipo de picadas. É fundamental, caso tenha histórico de anafilaxia, deixar de sobreaviso as pessoas mais próximas, sobretudo quando faz atividades ao ar livre solitárias.
Urticária solar
A urticária solar é uma situação rara, que se caracteriza pelo aparecimento de vermelhidão, prurido e pápulas, que muitas vezes se agregam e formam grandes áreas de inchaço. Pode surgir em poucos segundos, sendo, portanto, uma reação imediata à exposição solar. É autolimitada, desaparecendo sem deixar marca em até 24 horas, desde que cesse a exposição solar. As pessoas com tom de pele mais claro estão mais sujeitas a reações deste tipo.
Habitualmente, a urticária solar está confinada às regiões expostas ao sol, mas, em casos muito raros, se a área exposta ao sol for extensa, poderá evoluir para uma anafilaxia.
Perante uma reação deste tipo, é importante procurar um Imunoalergologista. Os fármacos de primeira linha para tratar este tipo de reação são os anti-histamínicos, e a fototerapia pode ser utilizada para induzir, progressivamente, tolerância à exposição solar. Nos casos mais difíceis de controlar, é necessário fazer ajuste da dose de anti-histamínicos, sempre de acordo com o médico especialista, ou, em casos mais graves, que não respondem a estes fármacos, pode ser considerado tratamento biológico.
Existem outros tipos de reações cutâneas, que têm sintomas idênticos aos de urticária solar, mas que, habitualmente, surgem após dois ou três dias de exposição solar. Estas têm indicação para serem avaliadas em consulta de Dermatologia.
Para evitar a urticária solar, está indicada a utilização de protetor solar – principalmente os chamados protetores solares físicos, compostos por óxido de zinco e dióxido de titânio, que criam uma barreira mais oclusiva na pele, refletindo as radiações UVA e UVB – e evitar exposição solar nas horas de maior calor.
Miliária cristalina
Mais frequentemente associadaa bebés e crianças, a miliária cristalina, ou sudamina, resulta do entupimento das glândulas sudoríparas pelo suor, daí aparecer principalmente no verão. Caracteriza-se pelo aparecimento de pequenas bolhascom vermelhidão, muito superficiais, que não causam dor, mas podem causar um prurido ligeiro e, por vezes, irritação.
É autolimitada, localizando-se, na maior parte das vezes,na região posterior do pescoço, na testa e nas “pregas”, como, por exemplo, dos braços e das pernas.
Quando se desenvolve esta reação, é importante manter o corpo o mais fresco possível, usar roupa fresca e manter as áreas afetadas sempre secas. A terapêutica, quando recomendada, pode passar por anti-histamínicos.
Para concluir, existem várias causas que podem determinar o aparecimento de reações cutâneas, no verão. O conhecimento das características do quadro clínico e a consciencialização para os sinais de alerta, que devem motivar uma consulta com o imunoalergologista ou apoio médico urgente, podem ajudar a decidir que atitude tomar, de forma a evitar a evolução para situações de maior gravidade.
Marta Neto,
Coordenadora de Imunoalergologia no Hospital CUF Sintra









