No Palácio Nacional da Pena, intervenções de conservação e restauro continuam a revelar fragmentos do passado que o tempo quase apagou. Durante os trabalhos no Quarto das Damas, sondagens nas paredes indicaram que, sob a pintura amarela aplicada no século XX, permaneciam vestígios do azul seco originalmente escolhido para o espaço na última campanha decorativa da época em que a Família Real ocupava o palácio.
Para resgatar esta memória histórica, a camada mais recente está sendo removida, permitindo que o tom azul volte a cobrir as paredes. Paralelamente, o Quarto do Veador e o banheiro anexo também passam por restauro, integrados no Plano de Manutenção do Palácio Nacional da Pena.

“Esta intervenção foi precedida de uma investigação histórica rigorosa. Conseguimos identificar as diferentes camadas de pintura acumuladas ao longo do tempo”, explica João Sousa Rego, presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, sublinhando que os trabalhos acontecem com o palácio aberto à visitação, no âmbito da política Aberto para Obras, permitindo que os visitantes acompanhem os métodos de conservação e valorização do património.
No Quarto das Damas, além da reposição do tom azul nas paredes, o teto em estuque policromado será restaurado. No Quarto do Veador e no banheiro, os trabalhos incluem a limpeza de poeira e microrganismos, consolidação do suporte, reintegração cromática e restauro dos estuques policromados, cuja pintura imita tábuas de madeira.
A sanca apresenta decoração naturalista em alto-relevo, com troncos cruzados e pinhas, seguindo o estilo arquitetônico do palácio, também visível na escultura exterior.

As três divisões passam ainda por requalificação das infraestruturas elétricas e instalação de iluminação cênica. A previsão é que as intervenções se estendam até março de 2026. Concluída esta fase, será realizada a reconstituição historicamente informada dos espaços e uma revisão museográfica completa.
O Veador e Dama: alta nobreza ao serviço de Sua Majestade a Rainha D. Amélia
Durante o reinado de D. Carlos I e de D. Amélia, os compartimentos do piso superior do claustro foram inteiramente destinados ao serviço da Rainha, sendo ocupados pelos seus aposentos e pelos de quem a servia de uma forma mais próxima, designadamente o Veador e a Dama – habitualmente um casal pertencente à alta nobreza que integrava a chamada Casa da Rainha. A principal função de ambos era acompanhar a Rainha, quer no interior do Palácio, quer fora dele, servindo de intermediários entre Sua Majestade e outras personalidades.

No entanto, os espaços que hoje conhecemos como Quarto do Veador e Quarto das Damas tiveram outras funções na época de D. Fernando II. O Quarto do Veador foi o quarto de toilete deste monarca e, posteriormente, foi ocupado pela sua segunda mulher, a Condessa d’Edla, passando a servir de guarda-roupa destinado à “Toilette da Senhora Condessa”.
O Quarto das Damas funcionou como Quarto de Cama de D. Fernando II, tendo sido depois transformado num quarto de toucador, ou boudoir, para a futura Condessa d’Edla.
Fotografia: DR PSML









